Quando me dei conta, estava em algum
lugar totalmente escuro, sem qualquer vestígio de luz. Não enxergava nada além
das minhas mãos, que com elas, naquele momento eu não sabia ao certo o que
fazer. Procurei, me virei, tentei abrir os olhos mais uma vez e avistar algo,
algum ponto ou sinal que pudesse me guiar, mas novamente não enxerguei nada. Por
um instante era só eu, meus pensamentos, aquilo que eu não encontro formas de
traduzir para o mundo tangível, e as coisas que, se eu explicasse, não fariam
sentido a ninguém. Ao menos penso que não, pois se fizer, espero que
encontre essa pessoa, ou essa coisa que converge ao mesmo tempo e no mesmo
lugar que eu.
Deixando de lado a tal busca da
identidade pessoal que todos dizem estar passando, naquele instante eu estava
me deparando com uma bifurcação invisível. Mais que isso, eram muitos caminhos
a escolher, mas não podia enxerga-los de fato, toca-los, testa-los para ter a
certeza de que o escolhido iria me levar algum lugar concreto. Para complicar,
não havia nenhum instrumento para me auxiliar na insistente fuga. Talvez eu não
devesse fugir, ou talvez a busca pela "coisa" de comum conversão toma
o lugar dessa fuga. Em tal obsessão, fui criando em minha mente um universo
paralelo ao tal breu, onde eu não consegui enxergar nada, mas era capaz de
sentir um ar mais denso, onde poderia moldar um viés alternativo aos padrões
que vieram me seguindo até aquela escuridão, mas não foi isso que foi capaz de
iluminar qualquer trajeto.
Por algum tempo isso tomou conta da
minha mente, dividindo espaço com as ideias megalomaníacas de uma viagem
inteira, que me remeteram ao lugar que estou agora. Neste mesmo espaço, também estão
as informações e sentimentos que eu fui absorvendo nesta mesma viagem, os quais
eu também tenho que traduzir, as vezes para que alguém entenda, mas
principalmente para que o que eu absorvi interaja com os universos que eu
anunciei criar. E é ai que está o problema, lidar com isso.